31 de julho de 2009

«If you call poetry...», Jaroslav Seifert

If you call poetry a song
- and people often do -
then I've sung all my life.
And I marched with those who had nothing,
who lived from hand to mouth.
I was one of them.

I sang of their sufferings,
their faith, their hopes,
and I lived with them through whatever
they had to live through. Through their anguish,
weakness and fear and courage
and poverty's grief.
And their blood, whenever it flowed,
spattered me.

Always it flowed in plenty,
in this land of sweet rivers, grass and butterflies
and passionate women.
Of women, too, I sang.
Blinded by love
I staggered through my life,

tripping over dropped blossoms
or a cathedral step.

30 de julho de 2009

Em Praga sê... (II)

Dia II
Um dia incrivelmente quente e de mudança do dormitório para um single. De novo, no centro da cidade e à descoberta dos principais referentes culturais. Podem optar por um percurso turístico de autocarro. Não é caro e temos à disposição um áudio-guia cuja versão portuguesa oscila entre o castelhano e o português brasileiro. No interregno da visita ao
Castelo de Praga ousei pedir para ir a uma casa-de-banho mas, como seria custeada, optei por usar os serviços e pedir uma cerveja. De regresso para um almoço tardio num café-bar irlandês. Investida cultural à Casa de Kafka, à livraria e à exposição de Dalí. No regresso, e graças ao meu infalível sentido de orientação, perdi-me e com um temporal à vista… grr… Lá dei com o hostel e partilhei o jantar com dois amigos belgas que já estavam de partida para mais uma aventura.

Dia III
Planificação de novo périplo cultural, abdicando de visitar o Museu da Literatura graças ao meu «apurado» sentido de orientação. Optei pela visita ao Museu Nacional, onde se encontram disponíveis bilhetes para concertos de jazz, música clássica, ópera…. Almoço no simpático Café Boulevard para depois rumar a ourivesarias, lojas de artesanato, galerias, um museu comercial e, obviamente, o Museu do Comunismo, lugar de culto mesmo ao lado do McDonald’s! A História pode, por vezes, ter um desfecho ou enquadramento irónicos!

De acrescer, o encontro feliz com a poesia de Jaroslav Seifert:
«To be a poet is no easy task.

He spots a warbler in the woods
flying above its nest
and he can’t stop himself from thinking
- O wicked ecstasy! -
of the warm tousled dimple
in his girl's armpit».


Dia IV
What’s new? Mais galerias, exposições, livrarias e, mais tarde, o Opera Show no Museu Nacional. Por fim, a investida ao Café Boulevard para uma pasta vegetariana acompanhada de um bom vinho! A esta altura, já estava enjoada de cerveja…





Be right back Praha!
( )s

Em Praga sê...

Para quem me conhece sabe que eu adoro viajar, sobretudo périplos de cariz cultural, com particular apetência pelos países de Leste. Encetei este percurso de relativismo sociocultural e existencial aos 16 anos quando, um ano após a queda do Muro de Berlim, tive o privilégio de conhecer Bona, Berlim e Munique com uma bolsa do Göethe Institut. Em 2001, ao abrigo de um projecto de investigação, rumei a Bucareste e Covasna. Lembro-me dos militares, do clima de instabilidade, da pobreza e das crianças sujas que vendiam mirtilos, não obstante a calorosa recepção com que toda a equipa foi brindada!

Após algumas incursões por Espanha, em particular Barcelona, permiti-me viajar este mês até Praga numa investida assumidamente cultural! Esta aventura começou, desde logo, na véspera da viagem, dia 21, ao (tentar) fazer a mala. É um dos momentos que menos aprecio uma vez que tenho sérias dificuldades em seleccionar quando tudo se me afigura relevante. Ao mesmo tempo, é incrível a sensação de despojamento e de liberdade quando condensamos numa mochila ou mala os artefactos a utilizar na viagem.















Dia I
Passadas duas a três horas de sono, arranquei para o aeroporto do Porto com voo agendado para as 06h00m. Passagem breve por Lisboa para rumar, em definitivo, a Praga. Após quatro horas, a minha necessidade primária consiste em acender um cigarro! Mesmo quando uma funcionária do aeroporto de Praga me pergunta se necessito de um táxi, só consigo esboçar um sorriso e dizer: «Sorry, I’m nervous and what I really need is to smoke». Findo o repasto tabágico, aproximo-me e reitero: «Ok, now I need a taxi». Este é o melhor procedimento, assim como repararem na placa do táxi, negociarem previamente a tarifa (neste caso, podia pagar em coroas checas, euros, dólares, ….) e no final peçam o recibo. Após 20-30m, estava no Hostel Elf. Na medida em que viajei sozinha, não queria estar confinada ao reduto de um quarto de hotel e aqui, para além de economizar, pude conhecer e interagir com jovens de diversos poisos do globo. Na primeira noite, dormi num dormitório com dois rapazes (canadiano e americano) e duas chicas. A meio da tarde, ainda tentei fazer o mapeamento do local do hostel, entrei numa biblioteca e a funcionária, sempre sorridente, ficou intrigada e sublinhou que o espaço se destinava a cidadãos checos. Acedeu à minha visita mas o meu checo é um pouco rudimentar, para não dizer nulo… Ao passar pela loja de conveniência non-stop, mesmo em frente ao hostel, entrei para comprar três singelas maçãs que custavam 26 coroas checas mas que em euros, segundo a conversão da funcionária, perfaziam 22 euros… Jantar calmo em Seifertova (o empregado era ligeiramente mais airoso do que o Salvatori de «O nome da rosa») e de novo no hostel, para uma noite tranquila. Definitivamente, tem mais pinta reler a biografia da Simone de Beauvoir num dormitório em Praga ou melhor num beliche! Quem diria, aos 33 anos concretizar uma das minhas fantasias de criança! Ao conhecer os dois machos do dormitório, fui convidada para uma ida ao centro da cidade, assistir ao espectáculo (invisível) do relógio astronómico e festejar! Não me fiz rogada e, sem entrar na lógica da quantificação, creio que superei o meu recorde pessoal de ingestão de cervejas, checas, irlandesas, whatever…


(continua)

21 de julho de 2009

Fragmentos temporariamente suspensos



Por motivos puramente hedonistas, aos quais somos voluntariamente alheios, estaremos ausentes estes dias para fins estritos de (des)intoxicação cultural em Praga.


Até já ( )s

14 de julho de 2009

Ideia do Poder | Giorgio Agamben

Talvez só no prazer as duas categorias inventadas pelo génio de Aristóteles, a potência e o acto, percam a sua opacidade, entretanto transformada em estereótipo, para, por um instante, se tornarem transparentes. O prazer – pode ler-se no tratado que o filósofo dedicou ao seu filho Nicómaco – é aquilo cuja forma é completa em cada instante, perpetuamente em acto. Desta definição resulta que a potência é o contrário do prazer. Ela é aquilo que nunca está em acto, que sempre falha o seu objectivo, em suma, é a dor. E se o prazer, de acordo com esta definição, nunca se desenrola no tempo, já a potência se inscreve essencialmente na duração. Estas considerações permitem lançar luz sobre as relações secretas que ligam o poder à potência. A dor da potência desvanece-se, de facto, no momento em que ela passa a acto. Mas existem por toda a parte – também dentro de nós – forças que obrigam a potência a permanecer em si mesma. É sobre estas forças que repousa o poder: ele é o isolamento da potência em relação ao seu acto, a organização da potência. Apropriando-se da sua dor, o poder fundamenta sobre ela a sua própria autoridade: e deixa literalmente incompleto o prazer dos homens.
Mas aquilo que assim se perde não é tanto o prazer como o próprio sentido da potência e da sua dor. Tornando-se interminável, esta cai sob a alçada do sonho e gera, para si própria e para o prazer, os mais monstruosos equívocos. Pervertendo a justa relação entre os meios e os fins, a busca e a formulação, confunde o cúmulo da dor – a omnipotência – com a maior das perfeições. Mas o prazer só é humano e inocente enquanto fim da potência, enquanto impotência; e a dor só é aceitável enquanto tensão que obscuramente prenuncia a sua crise, o juízo resolutivo. Na obra, como no prazer, o ser humano desfruta enfim da sua própria impotência.

10 de julho de 2009

4.ª Marcha do Orgulho LGBT|Porto

«Prece da Aurora»

Acorda. A Aurora incendiou a Noite,
da qual apenas resta um pouco de cinza azul.
A areia está fresca, como um tapete de jasmim.
O ar é mais límpido que uma gota de água de neve.

Acolá, é uma gazela que salta
ou uma flor grande que procura
aproximar-se do sol?
Ele vai trespassar com as suas flechas
o cálice da fonte
e o coração do amante infortunado.

Estou de pé na luz.
Desafio o sol a ofuscar-me,
já que não baixo os olhos
quando tu me olhas.

Acorda. Este perfume, que o vento balança,
não é o das laranjeiras, mas o hálito
do adolescente radioso
que agita o seu escudo no céu.

Vem. As auroras que temos para ver
estão contadas já
e a noite do túmulo é eterna.

Quero contemplar-te, estremecente e nua,
nesta luz em que o teu corpo,
estriado de pequenas veias azuladas,
brilhará como um sabre damasquinado.

Respirarei, sobre o teu colo, o odor do orvalho
que o humedecia nas nossas lutas amorosas,
e este aroma perfumará de tal modo a brisa
que os pastores perguntarão a si próprios
se ela não atravessou os Jardins do Paraíso.


in «O Jardim das Carícias», Anónimo Árabe (Séc. X)

2 de julho de 2009

Tens inteira liberdade de te absteres dos sofrimentos do mundo, isso corresponde à tua natureza; mas talvez o facto de te absteres seja o único sofrimento que possas evitar.

A musa dos recibos verdes

Vieste insegura mas a anos-luz da formosura!
Balofa corrias e só mais um pedias!

Pensei:
- Será um cigarro enrolado ou um profiterole congelado?

Fui ver e era mais um recibo verde a preencher!

1 de julho de 2009

Intacta Teatro/Performance/Música/Dança

Direcção, Texto e Música de Teixeira Moita; Interpretação, Coreografia e Figurinos de Fabíola Fernandes, voz-off de William Gavião e com assistência e produção de Carlos Pinto Vinagre.

Junta-se sem misturar, num mesmo espaço cénico, diferentes expressões e linguagens artísticas, tendo como base um "corpus" dramático fixado em texto.

O espectáculo será apresentado hoje, 1 de Julho, às 21h35m, nas Galerias de Paris (Porto).

Apareçam!

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...