Fotografia de António S. Oliveira
Amálgama de palavras, sons e imagens em busca de dias sempre leves ou escreve um poema e bebe um copo que isso passa
4 de outubro de 2010
Revista de Poesia «Piolho» 2 | Edições Mortas & Black Sun Editores
18 de setembro de 2010
extracção nyaneka | voz das mães, Ruy Duarte de Carvalho
turvaste a água!
é morte de homem?
a que cheira então?
isso que fede é o cheiro da injúria, da afronta
da escória da memória.
falaste, soltaste a língua
abriste a palavra aos outros:
vem-te à boca agora
o hálito alheio
e respiras o sabor
do que tinhas engolido.
vai à lenha e volta
a novidade espera.
onde ir à água que a não deixes turva
e aonde te vais mostrar
que não te exponhas ao mundo?
da rama estéril, quem fala?
a inveja visa é lá, é onde tem.
hálito alheio:
memória da escória.
15 de setembro de 2010
19 de agosto de 2010
Revista de Poesia «Piolho» 2 | Ed. Mortas
16 de agosto de 2010
Véu Nascituro
um sopro de vida.
Do véu nascituro,
uma parte do ser.
Qual gata assanhada,
fôlego de flor ou cão cansado,
ronrono para te espreitar – F.!
21 de julho de 2010
«A Origem do Mundo», Jorge Sousa Braga
As pernas abertas a vulva exposta
Em primeiro plano entre as coxas
Roliças e as nádegas espalmadas
Os pêlos do púbis densos como escamas
Como linha do horizonte as suas mamas
9 de julho de 2010
Revista de Poesia «Piolho» | Edições Mortas
22 de junho de 2010
21 de junho de 2010
Os (in)equívocos noticiosos
12 de junho de 2010
Feira do Livro do Porto 2010
29 de maio de 2010
19 de maio de 2010
Simplesmente Mamãs
11 de maio de 2010
6 de maio de 2010
Ideia da Não-comunicação | Niklas Luhmann
26 de abril de 2010
25 de abril de 2010
13 de abril de 2010
7 de abril de 2010
Ideia do Erro | Fernando Pessoa
Sistemas vãos de vãs filosofias,
Religiões, seitas [voz de pensadores],
Se o erro é condição da nossa vida,
A única certeza da existência?
Assim cheguei a isto: tudo é erro.
Da verdade há apenas uma ideia
À qual não corresponde realidade.
Crer é morrer; pensar é duvidar;
A crença é o sono e o sonho do intelecto
Cansado, exausto, que a sonhar obtém
Efeitos lúcidos do engano fácil
Que antepôs a si mesmo, mais sentido,
Mais [visto] que o usual do seu pensar.
A fé é isto: o pensamento
A querer enganar-te eternamente
Fraco no engano, [e assim] no desengano;
Quer na ilusão, quer na desilusão.
23 de março de 2010
Ideia da Forma | Ana Horta
16 de março de 2010
14 de março de 2010
Considerandos felinos sobre a noite
Sonho muitas vezes que estou num telhado e que o corro dum lado para o outro até encontrar um buraco nas telhas e por aí entrar. Entro no forro do telhado, estou entre o tecto e as telhas, vejo-me perdido noutro mundo, num mar de ratos e ratazanas, escorrego nos seus dejectos, enredo-me nas teias de aranha, encho-me de pó, é pesadelo, mete medo, não sou capaz de sair e desato a miar, miar e aqui acordo, suado, o pelo irritado, mas acordo no meu velho sofá.
Ia para falar mais um pouco, agora sobre a noite que se aproxima e que é a mais bela fase do dia, mas não me apetece. Estou irritado comigo próprio. Vou lamber-me de alto a baixo e continuar a dormir. Pode ser que amanhã de manhã me apeteça falar sobre a noite que findou e que eu não soube aproveitar...
Cristina Carvalho, «Eu, gato, considerando vagamente sobre a manhã, a tarde e a noite»
9 de março de 2010
6 de março de 2010
Ideia do Feminismo | Florence Thomas
25 de fevereiro de 2010
«A Senhora Lázaro», Sylvia Plath
Uma vez em cada dez anos
Consigo-o –
uma espécie de milagre ambulante, a minha pele
Brilhante qual quebra-luz nazi,
o meu pé direito
um pisa-papéis,
o meu rosto, um fino e incolor
linho judeu.
Afasto o guardanapo
inimigo meu.
Meto medo?
O nariz,as cavidades dos olhos, os dentes todos?
O hálito acre
desaparecerá daqui a um dia.
Em breve, em breve, a carne
devorada pela caverna tumular sentir-se-á
em casa sem mim
E eu serei uma mulher sorridente.
Tenho trinta anos apenas.
E tal como o gato, tenho sete vidas.
Esta é a Número Três.
Que desperdício
alienar cada década.
Que milhão de filamentos.
A multidão mastigando amendoins
empurra-se para entrar e para os ver
desembrulhar o meu corpo, pés e mãos –
o grande strip tease.
Senhoras e senhores,
eis as minhas mãos,
os meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,
apesar disso, sou a mesma, exactamente a mesma mulher.
Da primeira vez que aconteceu, tinha dez anos.
Foi um acidente.
Da segunda, quis
que fosse a sério e que esse caminho não tivesse retorno.
Fechei-me
como uma concha.
Tiveram que chamar por mim, chamar,
e arrancar os vermes de mim como se fossem pérolas pegajosas.
Morrer
é uma arte, como tudo o mais.
Faço-o excepcionalmente bem.
Faço-o com um gozo imenso.
Faço-o como se fosse real.
Talvez se possa considerar uma vocação.
É fácil fazê-lo numa cela.
É fácil fazê-lo e ficar no mesmo sítio.
É a faceta teatral
de um regresso à luz do dia
ao mesmo lugar, ao mesmo rosto, ao mesmo
grito divertido e estúpido:
«Um milagre!».
Isso dá cabo de mim.
Há um preço
para ver as minhas cicatrizes, há um preço
para ouvir o bater do meu coração –
ele persiste.
E há um preço, um preço muito elevado,
para uma palavra ou para um toque
ou para uma gota de sangue
ou para um pedaço do meu cabelo ou das minhas roupas.
Então, então, Herr Doktor.
Então, Herr Inimigo.
Sou a vossa obra,
sou o vosso valioso objecto,
o puro bebé de oiro
que se dissolve num grito.
Viro-me e ardo.
Não penseis que subestimo a vossa profunda atençaõ.
Cinza, cinza –
Agitais, inflamai.
Carne, osso, não há nada aí –
Um sabonete,
uma aliança de casamento,
a coroa de oiro de um dente.
Herr Deus, Herr Lúcifer
Acautelai-vos
Acautelai-vos.
Ergo-me das
cinzas com meus cabelos ruivos
e devoro homens tão facilmente como respiro.
24 de fevereiro de 2010
22 de fevereiro de 2010
Petição Pública: Um dos mais antigos métodos da democracia (?)
1. Petição Pelo Fim do Hi5 Beta – 21184 signatários;
2. Petição Filipe e Diana a Londres - 17696 signatários;
3. Petição REGRA DOS 95 (Idade+anos de serviço) -13417 signatários.
20 de fevereiro de 2010
«Diário Bizantino», Cristina Campo
Atrás e dentro
estradas ensopadas
atrás e dentro
névoa e laceração
para lá do caos e da razão
portas minúsculas e duras cortinas de couro,
mundo selado ao mundo, compenetrado no mundo,
inenarrável desconhecido ao mundo,
pelo sopro divino
um instante suscitado,
pelo sopro divino
logo cancelado,
espera o Lume escondido, o sepulto Sol,
a portentosa Flor.
Dois mundos – e eu venho do outro.
A fronteira, aqui, não é entre mundo e mundo
nem entre alma e corpo,
é corte vivo e eficaz
mais afiado que dupla lâmina
que se afunda
e separa
a alma veemente do espírito delicado
- até que bem despegado o caroço rode dentro da polpa –
as junturas dos ossos
os tendões da medula:
lâmina que discerne o coração
as tremendas intenções
as hesitações rapaces.
Dois mundos – e eu venho do outro.
19 de fevereiro de 2010
De modo a que ninguém seja e/ou se sinta discriminado, que critérios perfilha uma Testemunha de Jeová para abordar alguém na rua e tentar (re)conduzi-lo(a) à salvação?
7 de fevereiro de 2010
Ideia do Amor | Edward Bond
Depois passam uma vida de escravidão para pagar a cama
Acabam zangados e estúpidos com ódio do mundo
Eles têm filhos para amar
Depois amaldiçoam-nos e alguns deles partem os braços
O jogador dá as suas últimas libras a uma rapariga num beco e
depois pontapeia-a insensivelmente para as recuperar
O amor levou-os para o beco
Não digam que o amor é mais puro do que aquilo
Os Generais têm mísseis porque nos amam
Quando fritarmos eles vão chorar por nós nos seus bunkers
Vocês aguentam em qualquer cabana desde que lá dentro haja amor
Desde que consigam dizer 'amor torna-nos humanos' não
precisam de se preocupar em agir como humanos e limpar a
confusão
Vocês patinham na vossa pilha de estrume e apelidam-se de santos
Se um Deus fez o mundo pôs amor nesse mundo para que não
conseguíssemos torná-lo melhor e mostrar que não precisamos de
Deuses
Bom se Deus fez o mundo espero que tenha lavado as mãos logo a
seguir
4 de fevereiro de 2010
28 de janeiro de 2010
Ideia da Parede | Fiódor Dostoiévski
27 de janeiro de 2010
26 de janeiro de 2010
Edgar Morin, Cultura e Barbárie Europeias
21 de janeiro de 2010
Ideia do poema-corpo | Maria Estela Guedes
Pureza e espontaneidade, energia primordial perdurando e ocultando-se sob a opressão das leis sociais, eis a natureza básica da poesia. Por isso, só o homem bárbaro, o primitivo e a criança estão suficientemente isentos do constrangimento normativo para poderem mover-se no país da linguagem poética enquanto acção fundadora: o país da magia e dos segredos.
A capacidade de visão do sujeito poético vai ao ponto de atravessar as membranas epidérmicas, pondo a nu a rede sanguínea e estrutura óssea dos rostos. Detém-se no sangue, por ser o elemento produtor de calor e luz: a teia sanguínea representa a mais profunda dimensão do corpo, a sua energia vital mais subterrânea.
20 de janeiro de 2010
15 de janeiro de 2010
Ideia da Musa | Giorgio Agamben
Mas esta latência é também o núcleo tartárico em volta do qual se adensa a obscuridade do carácter e do destino, o não-dito que, agigantando-se no pensamento, o precipita na loucura. Aquilo que o mestre não vê é a sua própria verdade: o seu limite é o seu princípio. Não vista, não exposta, a verdade entra no seu ocaso, fecha-se no seu próprio amanthis.
A insuficiente exposição do princípio constitui este em limite do que é dado pela musa, em inspiração. Mas, para poder escrever, para poder tornar-se também inspiração para nós, o mestre teve de abandonar a sua inspiração, teve de a esgotar: o poeta inspirado é um poeta sem obra. Este rasurar da inspiração, que arranca o pensamento ao reino das sombras do seu ocaso, é a exposição da Musa: a ideia.
14 de janeiro de 2010
Recentemente foi noticiado que deverá cessar a publicidade alusiva a determinado tipo de alimentos e direccionada, sobretudo, ao público infanto-juvenil, dada a epidemia da obesidade que grassa na sociedade portuguesa. Talvez se estranhe a ausência de tais mensagens mas, certamente, o consumo desses bens continuará a entranhar-se. Trata-se de um meio difuso na construção e imposição de gostos e consumos, mas não podemos confinar a intervenção a este nível. A obesidade que afecta cada vez mais crianças e adolescentes não tem no meio publicitário o único bode expiatório. Urge uma resposta sistémica, o que equivale a abordar os estilos de vida correntes, a construção social dos gostos, a escola, entre outros, sem descurar o famigerado sedentarismo dos tempos livres de televisão, videojogos e Internet feitos.
12 de janeiro de 2010
«Não», Natércia Freire
Do que somos ou seremos
Mas entre as vozes que fogem
Precisar o que dizemos.
Dormir sonos ante-céus
Abismos que são infernos.
Dormir em paz. Dormir paz,
Enfim a nota segura.
Lembrar pessoas e dias
Que penetraram no espaço
De eventos primaveris.
E dar a mão aos espectros
Beijá-los lendas, perfis.
Amar a sombra, a penumbra
Correr janelas e véus.
Saber que nada é verdade.
Dizer amor ao deserto
Abraçar quem nos ignora
Dormir com quem não nos vê
Mas precisar do calor
De quem nunca nos encontra.
8 de janeiro de 2010
Sociedades em confusão, desmoronamento das ideologias, dúvida crescente face às certezas da ciência, o corpo é simultaneamente fonte de desprezo e de narcisismo, lugar de uma violência social colectiva, lugar de uma violência individual psíquica.
Braunstein & Pépin, O Lugar do Corpo na Cultura Ocidental
6 de janeiro de 2010
«Vem, vento, varre», Adolfo Casais Monteiro
Que fique apenas
Vem, vento, varre!
5 de janeiro de 2010
‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson
‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...
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A mesma folha. De um lado, analisar, do outro – eu. Mas o lado primeiro também eu. Outro eu. E o que vacila entre os dois lados (que não é ...
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Não me conformo com a ideia de vivermos aqui, cada noite ancorada num porto diferente... Quero uma casa. Preciso de ver pessoas. Quero volta...
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‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...