20 de fevereiro de 2010

«Diário Bizantino», Cristina Campo

Dois mundos – e eu venho do outro.

Atrás e dentro
estradas ensopadas
atrás e dentro
névoa e laceração
para lá do caos e da razão
portas minúsculas e duras cortinas de couro,
mundo selado ao mundo, compenetrado no mundo,
inenarrável desconhecido ao mundo,
pelo sopro divino
um instante suscitado,
pelo sopro divino
logo cancelado,
espera o Lume escondido, o sepulto Sol,
a portentosa Flor.

Dois mundos – e eu venho do outro.

A fronteira, aqui, não é entre mundo e mundo
nem entre alma e corpo,
é corte vivo e eficaz
mais afiado que dupla lâmina
que se afunda
e separa
a alma veemente do espírito delicado
- até que bem despegado o caroço rode dentro da polpa –
as junturas dos ossos
os tendões da medula:
lâmina que discerne o coração
as tremendas intenções
as hesitações rapaces.

Dois mundos – e eu venho do outro.

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