20 de agosto de 2009

«Autobiografia», Jaroslav Seifert

Com o 'Lado B' inauguramos a tradução de poemas neste blogue. O mote é dado por Jaroslav Seifert, reiterando a liberdade poética e a primazia do texto, e cujo poema traduzido do checo para inglês por Ewald Mosers pode ser aqui consultado.

Às vezes
quando a minha mãe falava de si própria
dizia:
A minha vida foi triste e calma,
eu sempre andei em bicos de pé.
Mas se eu me irritasse

e batesse o pé
as chávenas, que tinham sido da minha mãe,
tilintavam no armário
e faziam-me rir.


No momento em que nasci, assim me disseram,
uma borboleta entrou pela janela
e pousou na cama da minha mãe,
mas nesse mesmo momento um cão uivou no quintal.
A minha mãe teve
um mau pressentimento.


O meu percurso de vida não foi tão calmo
nem tão sereno como o dela.
Mas mesmo quando eu contemplo os dias de hoje
melancolicamente
tal como molduras vazias
e tudo o que vejo é um muro árido,
ainda assim, tem sido tão belo.


Existem muitos momentos
que não posso esquecer,
momentos como flores radiantes
de todas as cores e tonalidades possíveis,
noites repletas de fragrância
como bagos de uvas purpúreos
ocultos pelas folhas da escuridão.


Li poesia com paixão
e adorei a música
e deambulei, sempre surpreendido,
de beleza em beleza.
Mas quando vi pela primeira vez
a imagem de uma mulher nua
comecei a acreditar em milagres.


A minha vida passou velozmente.
Foi muito breve
para os meus imensos anseios,
que não conheciam limites.
Sem me aperceber
a minha vida aproximava-se do fim.

Em breve a morte irá bater-me à porta
e entrar.
Recuperarei o fôlego com um terror sobressaltado
e esquecer-me-ei de respirar de novo.

Que eu não seja recusado no momento
de beijar as mãos mais uma vez
de todos os que pacientemente e a meu lado
caminharam uma e outra vez
e que, acima de tudo, amaram.

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...