19 de dezembro de 2020

Carta ao Tomé

Kafka escreveu a carta ao Pai.

Eu escrevo ao António Tomé.

Quando dizia poesia, fui a uma feira de artesanato e conheci o Tomé!

Queria um colar da minha tatuagem do Om. Fazia esmalte, mas, na altura, estava também a fazer trabalhos em prata. Seguimos.

O Tomé era Alguém que nos fazia sorrir e que tornava tudo leve…

Professor primário, artesão, natural do Pinhão.

Foi uma Luz no meu mundo cinzento. Facilmente recreava dias perfeitos. Parou o meu tempo.


Obrigada Tomé:

- Pelo achigã que comemos e pescámos (odeio pescar);

- Quando me acompanhaste à FLUP para receber o prémio de curso;

- Por caminhares ao meu lado de olhar limpo.

(...)

Depois, a vida segue e afastámo-nos.

Deixei de ir a feiras de artesanato.

E um dia, ousei e perguntei por ti…. Queria muito que tivesses conhecido o F. ‘Tinhas tocado a campainha’ (private joke).

Recebi a notícia da tua viagem. Comprei um anel e agarrei-me a F.

Até já Tomé e faça o favor de olhar por nós =)

4 de dezembro de 2020

Ruínas in Livro de Soror Saudade | Florbela Espanca

 


Se é sempre Outono o rir das Primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
 
E deixa sobre as ruínas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!
 
Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais alto do que as águias pelo ar!
 
Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... Deixa-os tombar.

24 de novembro de 2020

Inquietudes covidárias II

- Quando recorrentemente acordas às 05h da matina e vês filmes ou séries forenses; se bem que o 'Assalto à Casa Branca' instigou-me a pegar em NERF's;

- Quando voltas ao ‘local do crime’, vulgo revisitas a estação de metro de outrora;

- Quando ponderas perseguir pessoas com o devido distanciamento e apenas dizer: 'olá, está tudo bem?'; ‘precisa de ajuda para ajustar a máscara?’;

- Quando o pico do teu dia é colocar umas sapatilhas e reciclar lixo;

- Quando acabas a jornada laboral e sais para comprar um rissol ou croquete, na loucura um pastel de carne;

- Quando o que te diverte é observar os outros a comprar 'raspadinhas'. 

Mas o ónus da questão é este: com o fim da pandemia, quantas pessoas poderei agarrar, abraçar e beijar? É que por mim vai (quase) tudo a eito!

E cientistas de todo o mundo, uni-vos, por favor! Para além desta famigerada vacina, há alguma réstia de esperança de, sei lá, entre duas a três inoculações, domarmos a estupidez humana?!?

20 de novembro de 2020

Amanhã recomeçamos | David Mourão-Ferreira

Não me conformo com a ideia de vivermos aqui, cada noite ancorada num porto diferente... Quero uma casa. Preciso de ver pessoas. Quero voltar a sentir a terra debaixo dos pés. Quero deixar de ouvir o mar.

19 de novembro de 2020

Inquietudes covidárias

Ora bem, a malta tem mais tempo para pensar e questionar, o que nem sempre é bom sinal.
Em tempos de Covid, dou por mim a refletir nos seguintes issues:

- Quando viro as costas, estou a ser mal-educada ou a honrar as regras de distanciamento e etiqueta respiratória?
- Posso trabalhar de pantufas?
- Onde param as Testemunhas de Jeová?
- Qual o ponto de situação dos trabalhadores de sexo? O sexo é com máscara?
- No caso da inspeção de veículos, deve o ‘inspetor’ entrar no carro alheio?
- Porque é que os presidiários não usam máscara?
- Há regras nos assaltos? A forma mais segura ainda deve ser por esticão e a seguir higienizar o que foi roubado…
- Porque é que o Partido Comunista insiste em realizar o congresso?
- Porque é que os jogadores de futebol continuam a conspurcar (vulgo escarrar ou ‘escupir’) o relvado?
- Devo já comprar uma arca para armazenar as minhas vacinas anti-covid?
- Que é feito do Sócrates e da Cinha Jardim?
- O João Baião não envelhece?
- Um ciclista numa passadeira conta como peão?
- A terra ainda é redonda?

Sobre este natal também tenho algumas questões:
- Quando devo fazer a árvore de natal?
- O pai natal vai descer pela chaminé?
- Porque é que o jogo do Joker está esgotado?

Ainda assim, o verdadeiro mistério reside em perceber, como um certo dia, às dez e meia da matina tinha enfardado três bolinhos de bacalhau, mas como também já tenho mais dias de ‘prisão domiciliária’ do que o Ricardo Salgado, ‘it is normal’!


18 de novembro de 2020

 

Ninguém motiva ninguém, ninguém se motiva sozinho…’

Paulo Freire

Quando olho para trás, sinto saudades de ser criança, o Eu e o Outro.

Tudo era mais simples e com menos solicitações.

Lembro os bancos da escola, o porta-moedas de prata da Professora, o casaco de peles e o batom vermelho. Ficava fascinada e dizia: ‘um dia quero ser assim’...

Recordo, ainda, a sofreguidão com que desfolhava o dicionário de língua portuguesa e a alegria dos livros com cheiro a novo no início de cada ano letivo! Ok, também gostava da sandocha (milimetricamente perfeita) de queijo e marmelada da Avó Sílvia e do meu perfume em forma de ovo da ‘Avon’.

Eram as minhas referências. Mais tarde fui socorrida pelo ovo Kinder e Slavoj Žižek.

Os sonhos de criança são simples ou parecem ser, para quem cumpre o papel de outsider.

Hoje, é cada vez menos fácil crescer criança. Há atividades e mais atividades, há papéis e expectativas a mais e falta tempo para o essencial.

Por aqui, tenta-se cultivar o mote ‘tempo para ter tempo’ e despir algumas roupagens.

Há tempo para (quase) tudo…. Descansar, brincar, estudar, olhar para o teto, ver as estrelas, sorrir… No limite, aprender a aprender!

Obs: Fausto, há recados? E trabalhos de casa? A máscara já foi para o lixo? E álcool gel, ainda tens? E o teste de matemática? Ops… ‘Tempo para ter tempo’ e deixar o papel de mãe funcional…

16 de novembro de 2020

#Covid

Voltamos...

F. já tem 10 anos e tem sido um companheiro ímpar, de viagens, partilhas e confinamento.

Nada mudou e tudo mudou nesta última década, sobretudo a partir de 13 de março de 2020…

Muito ficou pelo caminho... A presença do outro, os afetos, a partilha...

O que também começou com ânimo, depois esmoreceu!

A par disso, a vida segue entre mais e menos.

(+)

Consigo levar F. todos os dias à escola e esperá-lo quando o avô o vai buscar...

Não gasto tempo a chegar a casa.

Poupo em máscaras, transportes, maquilhagem e solas de sapatos.

(-)

Sinto saudades de abraçar e beijar os meus Pais.

Sinto falta dos Amigos, de sair e falar; do café da manhã; dos almoços partilhados; dos vestidos e saltos altos, com perfume e make-up. Em casa até podemos ensaiar, mas nada é igual a nada…

Reconheço que fujo dos outros quando caminho e mais parece que, ando a roubar, quando faço compras.

Não gosto de usar máscara e o mote do ‘vamos ficar todos bem’ irrita-me solenemente pois não vamos nem estamos bem!

Mas isto são migalhas a par das vidas perdidas e do desgaste dos Profissionais de Saúde…

Este é o balanço! Entretanto, acho que me esqueci de fazer a pedicure...


‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...