21 de maio de 2009

Retratos de uma Sibila decadente (IV)

Desperto uma e outra vez e nada sinto. Ao longe vejo um corpo mover-se e arrastar-se e sigo a sombra mas quando devolvo o olhar sou eu e nada mais resta que assistir ao meu retorno. E se hoje eu escrevesse um poema? Leio e busco inspiração e gurus e fico fascinada com as palavras dos outros. Mas a minha voz não é audível, é um eco que perturba e suja o famigerado estado poético. Disseste que, um dia, eu ia perceber que tudo não passava de um gritante exercício de vaidade mas nessa fogueira eu não consigo arder, não há palavras e ânimos que me sustenham e elevem ao estado metafísico dos alquimistas. E nada regressa... penso mar e balbucio cal? Que lógica é esta de quem parte e não regressa, de quem se despede e se apresenta como um autor itinerante? Eu estou presa, arreigada a este corpo e não consigo, estou cansada, a volúpia dos dias rouba-me à vida e não regresso.

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...