26 de fevereiro de 2009

«Tene me», Hélia Correia

O seu amor rodeia-me a garganta.
Foi bem cedo selado, este metal,
e o meu pescoço não robusteceu.
Nem quase canto.
Dizem que são belas as vozes das cativas.
Porém não estas,
as que enrouqueceram
sob o estrangulamento do amor.











Campos e noites. Voaria, aquela
a quem o gancho do mar tolheu
o movimento das omoplatas.
Ensaia apenas uma elevação,
como os cães nos quintais,
pedindo a lua.
Correria, se houvesse no amor
a mínima distancia consentida,
um certo alívio.
Mas somente o ferro
e o seu conhecimento delineiam
os muros da paisagem.
Quem caminha
depõe um rasto
como se cortassem,
para que sangrem,
seus pés.
Curta é a terra
para os assinalados do amor,
os que trazem gravado este comando
para que os levem de volta.

Alguém ganhou
numa zona de caça
a sua presa
por mera distracção.
Com um olhar,
o sinal para que soldem as cadeias,
aquele em cujo nome
o amor prendeu
é livre de jogar
a sua parte.



in Apodera-te de mim

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...