30 de julho de 2009

Em Praga sê...

Para quem me conhece sabe que eu adoro viajar, sobretudo périplos de cariz cultural, com particular apetência pelos países de Leste. Encetei este percurso de relativismo sociocultural e existencial aos 16 anos quando, um ano após a queda do Muro de Berlim, tive o privilégio de conhecer Bona, Berlim e Munique com uma bolsa do Göethe Institut. Em 2001, ao abrigo de um projecto de investigação, rumei a Bucareste e Covasna. Lembro-me dos militares, do clima de instabilidade, da pobreza e das crianças sujas que vendiam mirtilos, não obstante a calorosa recepção com que toda a equipa foi brindada!

Após algumas incursões por Espanha, em particular Barcelona, permiti-me viajar este mês até Praga numa investida assumidamente cultural! Esta aventura começou, desde logo, na véspera da viagem, dia 21, ao (tentar) fazer a mala. É um dos momentos que menos aprecio uma vez que tenho sérias dificuldades em seleccionar quando tudo se me afigura relevante. Ao mesmo tempo, é incrível a sensação de despojamento e de liberdade quando condensamos numa mochila ou mala os artefactos a utilizar na viagem.















Dia I
Passadas duas a três horas de sono, arranquei para o aeroporto do Porto com voo agendado para as 06h00m. Passagem breve por Lisboa para rumar, em definitivo, a Praga. Após quatro horas, a minha necessidade primária consiste em acender um cigarro! Mesmo quando uma funcionária do aeroporto de Praga me pergunta se necessito de um táxi, só consigo esboçar um sorriso e dizer: «Sorry, I’m nervous and what I really need is to smoke». Findo o repasto tabágico, aproximo-me e reitero: «Ok, now I need a taxi». Este é o melhor procedimento, assim como repararem na placa do táxi, negociarem previamente a tarifa (neste caso, podia pagar em coroas checas, euros, dólares, ….) e no final peçam o recibo. Após 20-30m, estava no Hostel Elf. Na medida em que viajei sozinha, não queria estar confinada ao reduto de um quarto de hotel e aqui, para além de economizar, pude conhecer e interagir com jovens de diversos poisos do globo. Na primeira noite, dormi num dormitório com dois rapazes (canadiano e americano) e duas chicas. A meio da tarde, ainda tentei fazer o mapeamento do local do hostel, entrei numa biblioteca e a funcionária, sempre sorridente, ficou intrigada e sublinhou que o espaço se destinava a cidadãos checos. Acedeu à minha visita mas o meu checo é um pouco rudimentar, para não dizer nulo… Ao passar pela loja de conveniência non-stop, mesmo em frente ao hostel, entrei para comprar três singelas maçãs que custavam 26 coroas checas mas que em euros, segundo a conversão da funcionária, perfaziam 22 euros… Jantar calmo em Seifertova (o empregado era ligeiramente mais airoso do que o Salvatori de «O nome da rosa») e de novo no hostel, para uma noite tranquila. Definitivamente, tem mais pinta reler a biografia da Simone de Beauvoir num dormitório em Praga ou melhor num beliche! Quem diria, aos 33 anos concretizar uma das minhas fantasias de criança! Ao conhecer os dois machos do dormitório, fui convidada para uma ida ao centro da cidade, assistir ao espectáculo (invisível) do relógio astronómico e festejar! Não me fiz rogada e, sem entrar na lógica da quantificação, creio que superei o meu recorde pessoal de ingestão de cervejas, checas, irlandesas, whatever…


(continua)

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...