10 de julho de 2009

«Prece da Aurora»

Acorda. A Aurora incendiou a Noite,
da qual apenas resta um pouco de cinza azul.
A areia está fresca, como um tapete de jasmim.
O ar é mais límpido que uma gota de água de neve.

Acolá, é uma gazela que salta
ou uma flor grande que procura
aproximar-se do sol?
Ele vai trespassar com as suas flechas
o cálice da fonte
e o coração do amante infortunado.

Estou de pé na luz.
Desafio o sol a ofuscar-me,
já que não baixo os olhos
quando tu me olhas.

Acorda. Este perfume, que o vento balança,
não é o das laranjeiras, mas o hálito
do adolescente radioso
que agita o seu escudo no céu.

Vem. As auroras que temos para ver
estão contadas já
e a noite do túmulo é eterna.

Quero contemplar-te, estremecente e nua,
nesta luz em que o teu corpo,
estriado de pequenas veias azuladas,
brilhará como um sabre damasquinado.

Respirarei, sobre o teu colo, o odor do orvalho
que o humedecia nas nossas lutas amorosas,
e este aroma perfumará de tal modo a brisa
que os pastores perguntarão a si próprios
se ela não atravessou os Jardins do Paraíso.


in «O Jardim das Carícias», Anónimo Árabe (Séc. X)

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