25 de novembro de 2009

Ideia do Avesso e do Direito | Albert Camus

Era uma mulher original e solitária. Mantinha uma estreita intimidade com os espíritos, tomava partido nas suas contendas e recusava-se a ver certas pessoas da sua família mal consideradas no mundo em que se refugiava.

Calhou-lhe uma pequena herança que vinha da sua irmã. Aqueles cinco mil francos, chegados no fim de uma vida, revelaram-se bastante incómodos… Perto da morte, quis abrigar os seus ossos… Comprou o jazigo. Estava ali um valor seguro, ao abrigo das flutuações da bolsa e dos acontecimentos políticos. Mandou arranjar a fossa interior, pô-la pronta a receber o seu próprio corpo. E, isto acabado, mandou gravar o seu nome em capitais de oiro.

Este negócio alegrou-a tão profundamente que foi tomada de um verdadeiro amor pelo seu túmulo. Vinha ver, ao princípio, os progressos dos trabalhos. E acabou por visitá-lo todos os domingos à tarde. Passou a ser a sua única saída e a sua única distracção.

Um homem contempla e o outro cava o seu túmulo: como distingui-los? Os homens e o seu absurdo? Mas aqui está o sorriso do céu. A luz aumenta e breve será o Verão? Mas aqui estão os olhos e as vozes daqueles que é preciso amar. Estou preso ao mundo por todos os meus gestos, aos homens por toda a minha piedade e o meu reconhecimento. Entre este direito e este avesso do mundo, eu não quero escolher, não gosto que se escolha.

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...