14 de abril de 2009

«Hipólito: Monólogo Masculino sobre a Perplexidade»

Sinopse
Numa linguagem assumidamente brutal, crua e pornográfica, este texto trata, como o nome indica, do mito de Fedra - que envolve a sua "vítima" - Hipólito. Nas versões clássicas, a vitimização de Hipólito efectua-se através de uma lógica falocêntrica e falocrática, sendo Fedra o motivo feminino trágico, o elemento anómalo social e familiar. Neste Hipólito, Fedra, a imagem feminina que antes era ímpia, frágil e doente, surge aqui como uma mulher que se impõe, uma mulher que age e que ama: «Não percebo porque é que ninguém fala das mães pedófilas/Será que elas não existem/Elas são iguais aos homens mesmo no mórbido/Elas também podem matar/Podem atirar ao lixo/sem grande transtorno/as suas próprias progenituras ou então afogá-las/com dois dias de vida e congelá-las/É por isso que hoje sou feminista/Porque acredito na igualdade dos géneros/tanto na bondade como na crueldade». O discurso de Fedra não se inscreve no formato das clivagens entre os sexos, esta Fedra é uma madrasta contemporânea, com "vontade de amar o seu filho com as mãos" e de satisfazer o seu desejo nele. Assim, em vez de ouvirmos o relato de Fedra, o autor propõe que se oiça o relato da vítima que passará ao longo dos anos de abusos sexuais, a ser igualmente o predador, para castigar a "trindade" da casa: Teseu, Fedra e ele próprio.
A cena, habitada por um homem e uma criança, cria tensões físicas e um conflito visual, oscilando entre um sentido trágico e perverso e um sentido lúdico, que se confundem facilmente. No monólogo fala-se da infância, entre testemunhos da brutalidade de que foi vítima, do amor infantil para com a sua madraste e da confissão de um filho de pai ausente. O falso monólogo surge como uma manifestação e uma provocação no modo como o mito é reescrito, e é também uma homenagem ou uma recordação aos casos de pedofilia e de incestos que temos vindo a assistir nestes últimos anos, alimentando-se de um trabalho de patchwork de alguns depoimentos verídicos de vítimas.


COLECTIVO 84 - ASSOCIAÇÃO PENETRARTE

18 e 19 Abril 2009, 21h30

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...