John Donne, Devotions upon Emergent Occasions
Lembro-me perfeitamente dessa noite, mais uma noite em que tinha por companhia o portátil, o wireless e as inúmeras ferramentas virtuais que me permitem, por instantes, apagar a minha existência (ir)real. O meu choque não é tecnológico mas sim afectivo!
E eu estava inquieta. Não sei mas havia algo que pairava como presságio. Algo me dizia que te ia encontrar, esgotar-te, sequer reter-te. Sabes, aquele acaso de Kundera, o acaso premeditado dos corpos que iludem outros corpos. E tu lá estavas, com os teus projectos, inquietações e dúvidas. Escutei-te ou melhor absorvi o que escrevias, tentando retorquir com algum brilhantismo mas já divagava e seguia as directrizes maternais «sê mais esperta e deixa o macho brilhar…». Tu achavas que eu estava deleitada a ler os teus pensamentos e teorizações mas eu tentava espreitar o episódio do «CSI» pois os técnicos forenses não estavam a assinalar devidamente as petéquias do principal suspeito. E depois convenhamos, não é fácil respirar num ambiente em que as janelas abertas confluem para o MSN, Gmail, Facebook, Ning, Mixxt, Twitter, Blip.fm, Blogspot, Orkut, Google Groups, YouTube,... Mas eu resistia, qual ciberguru poliglota, espartilhando-me em sugestões, blips, updates, comments, accounts, profiles, search, e sei lá o quê...
E ainda assim tive a ilusão de alcançar-te até sugerir o afamado «quando nos conhecemos pessoalmente?».