16 de abril de 2009

Dia Mundial da Voz

Uma pesquisa sumária sobre a voz (humana) afere que se trata de uma característica humana intimamente relacionada com os processos de socialização, interacção e comunicação (cf. Wikipédia). A isto, Mia Couto poderia retorquir «de que vale ter voz, se só quando não falo é que me ouvem?». Já Bourdieu, o messias da sociologia europeia, apelava ao papel do sociólogo como ser comunicante e porta-voz dos oprimidos e dos silenciados pela panóplia de instrumentos de violência simbólica (vd. Lição sobre a Lição).

No espectro da poesia, citamos a Voz Activa de Miguel Torga (in «Diário XIII», 1983):

Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia.


E A Voz que Nos Rasgou por Dentro de Nuno Júdice (in «Meditação sobre Ruínas»):

De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

‘Esperança’, essa coisa de penas feita | Emily Dickinson

‘Esperança’, essa coisa de penas feita – Que assenta na alma – E trauteia a melodia sem quaisquer palavras – E nunca pára, de forma al...